quarta-feira, 6 de maio de 2009

Manhã de Garôa

Ploc ploc ploc! Caminhava apressadamente - que sempre estava com pressa – pela calçada ligeiramente molhada. Observava os fumantes na parte de fora dos estabelecimentos, todos com aquela mesma postura, cabeça soerguida, como se pudessem assoprar a fumaça para outras paragens. Mas isso definitivamente não o interessava. Nem a calçada, nem os estabelecimentos, muito menos os fumantes e suas fumaças. Havia algo de mais amargo naquela manhã. Mais do que o gosto na garganta da bebida da noite anterior. Algo agora fazia menos sentido do que antes (não que antes fizesse muito sentido). Seria o outono? Mas há tempos que pra ele todas as estações eram outono. Havia algo mais, algo de mais sério, algo de mais grave, algo de mais triste. Lembrava-se da frase de Pessoa: “A metafísica é uma conseqüência de se estar indisposto”. Lembrava-se também que conseqüência não tinha mais trema. E de nada mais se lembrava. Atravessou a rua, apressadamente, cogitou se deixar atropelar por aquele Corcel II azul geladeira, mas seguiu a vida. A tarde o sol apareceu.