sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ontem a noite vi um coelho na lua!
Exatamente naquele momento, logo ao anoitecer, em que a lua cheia fica bem grande e amarelada no horizonte. Foi nesse momento que pude notá-lo!
Me passou pela cabeça que poderia ser um coelho gigante, de dimensões colossais, para que eu pudesse vê-lo a uma distância tão grande. Mas sei lá, a verdade é que eu o enxerguei como um coelhinho qualquer.
Corria de um lado para o outro em pequenos pulinhos, vez por outra cavava buraquinhos. Não sei como não lhe faltava o ar. Parecia estar ali, naquele deserto cheio de crateras, a procurar a sua cenoura. Pensei comigo: quanto tempo levará para morrer de fome?
Sempre achei o coelho um animal muito bonito. Bonito e estúpido. Sua beleza é diretamente proporcional a sua estupidez. É uma presa. A natureza o fez presa. Herbívoro com olhos laterais, característica das presas.
Mas ficou lá!
O que o coelho enxergava da lua? Será que me notava?
A bolota azul, refletindo naqueles olhinhos avermelhados.

Seis bilhões de coelhos, no vácuo, sonhando com sua cenoura.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Então. Por vontade, deveras narcisista, de compartilhar com público mais vasto algo que compus - e que nem por isso me faz poeta - nos momentos solitários de devaneio, venho novamente aderir a politica dos Blogs! Em principio compartilho com os interessados alguns velhos textinhos, que espero, por algumas sinceras apreciações possam fazer com que novos brotem.


Grande abraço aos que tiverem disponibilidade!
40 minutos


Ele sempre pensava que 40 minutos era o tempo necessário para que uma cerveja pudesse ser degustada com alguma dignidade. Assim, sorvida por um homem só. Além disso, se demorasse menos, o que faria com o resto do tempo?
Era assim que gostava de aproveitar a vida, e, podemos crer, uma vida inteira pode ser esgotada assim, de 40 em 40 minutos, de cerveja em cerveja.
Aos que o observavam, esse comportamento podia parecer indolente. Mas era uma coisa que não parecia preocupá-lo: o que os outros pensavam. Alias, pouca coisa preocupava-o (pelo menos aparentemente). Sentado ali, seu único interesse repousava sobre a necessidade de esvaziar, vagarosamente, aquele copo.
Trajava-se de modo desleixado, mas portava sempre um paletó, que embora antigo e fora de moda, ainda conservava um certo charme rústico. Na verdade gostava do paletó porque possuía um bolso interno na medida certa para uma caderneta de notas que trazia sempre consigo. No seu íntimo ele imaginava que, se uma caderneta de notas tivesse de ser sacada de algum lugar, que fosse de um bolso interno, pra dar mais gravidade ao ato. Porém, nos cinco anos que havia por ali aparecido, ninguém o vira jamais tirar do bolso a caderneta.
Por atitude própria, nunca falava com ninguém. Mas respondia com educação a qualquer interpelador, o que, vez por outra, inseria-o em alguma conversa. Sempre quando indagado sobre o que andava fazendo, respondia tranqüilamente que estava em busca de uma idéia original. Fora isso, pouca coisa podia-se dele saber.
No barzinho, que freqüentava diariamente a alguns anos, já tinha cadeira cativa, e o dono do bar sentia certa simpatia por ele apesar de não saber de onde vinha e de poucas vezes ter ouvido a sua voz. Aquela atitude contemplativa sempre inspirava, se não simpatia, ao menos respeito.
Naquela tarde de terça-feira, em que as cores do outono já se deixavam notar, o dono do bar observou intrigado quando seu mais assíduo cliente retirou do bolso interno do paletó uma pequena caderneta e rabiscou umas palavras. Depois disso ele terminou, vagarosamente, aquela cerveja, levantou-se e com um estranho sorriso se despediu do dono do bar.
Nunca mais voltou.
O que ficou dele, naquele lugar, foi uma inquietante dúvida na cabeça do bodegueiro, que na tarde de terça, do balcão onde estava, pode observar a anotação na caderneta: 40 minutos.
Guarapuava (por um guarapuavano) - (essa é véia já!)


Não és São Paulo
Não és Lisboa
És Guarapuava. Terra boa!

Refletes um passado que não vive mais,
Trazes na face o que ficou pra trás
Na devoção insensata dos teus fiéis
Nos desmandos dos teus coronéis.

Por ser teu filho questiono com franqueza:
Ah, Guarapuava, onde está tua beleza?
Por sermos parecidos é que te detesto,
Pois foi tu que me fez funesto.

Diz, Gurapuava!
Serão tuas madrugadas frias,
(tuas ventanias)
Que trazem a frieza do trato da tua gente
E teu horror a tudo que é diferente?

Por que não deixas o futuro raiar?
Porque mostras os dentes assustadoramente
A qualquer um que te diga: Sorria, ho loba rabugenta!
Teu seio não acolhe, afugenta!

Não te banha o Tejo.
Não te molha a Garoa.
És Guarapuava. Terra boa?

Sei porém que não és má, maldade é o que fazem de ti.
E por assim te odiar talvez eu morra aqui.