segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Noir Universitário - Parte 3

Quarta-feira, 20 de maio. Acordo sobressaltado perto das 11 horas. Tinha ficado acordado até tarde na noite anterior, pensando em que rumo dar a estranha situação em que me metera. O meu vacilante senso de moral me impelia a ajudar aquela moça de alguma maneira. Aqueles olhos claros, aquelas palavrinhas rápidas e intermináveis tinham um quê de desespero. Em outra época eu teria descolado mais vinte reais e caído fora, mas agora era diferente. Eu só não entendia porque era diferente.
Depois de almoçar o velho macarrão com carne moída – prato requintado para universitários – resolvi botar em prática o plano que concebera na minha insônia. O bom de um dia ter sido estagiário em uma universidade é que você conhece pessoas, na maioria não as que mandam, mas as que fazem. Isso pode ser útil um dia. Por isso fui falar com o Manoel, um amigo meu que estagiava na Divisão de Apoio Acadêmico. O Manoel era um sujeito interessante, meio nerd, meio filósofo. Baixo e um pouco acima do peso ele me parecia o Jack Black usando óculos. Ele podia ficar horas conversando sobre qualquer assunto e de repente se calar, e sair sem te dizer nada. Eu nem entendia direito porque a gente era amigo. A verdade é que o Manué, como eu o chamava a contra gosto dele, tinha um pode incrível nas mãos: tinha acesso as informações de todos os acadêmicos da UNICENTRO. Coisas tipo endereço, informações pessoais, boletins e além. Se alguém podia me dar mais detalhes da Minerva enquanto acadêmica, era ele. O problema é que o cara era muito ético e não compartilhava nada disso, mas eu já tinha esquematizado a forma de coopta-lo.
Abordei o Manoel no corredor da universidade, perto de um banheiro, eu sabia o quanto ele era metódico e que fumava escondido sempre naquela hora.
- Fala Manué, e ai, como vai essa vida? – eu não tinha tempo a perder, então fui bastante objetivo, puxando uma nota de dinheiro do bolso interno do meu sobretudo apertado mandei: - Você ainda está interessando nessa minha nota de 10.000 cruzeiros pra sua coleção de coisa veia.
Os olhinhos dele brilharam por detrás das grossas lentes. Eu sabia que o Manoel colecionava coisas antigas, principalmente moedas e notas. A muito tempo eu tinha mostrado a nota que meu avô me dera e ele nunca parou de insistir pra que eu desse. Eu não tinha dado só de sacanagem, mas agora o caso exigia. Logo o Mane se convenceu, no outro dia me traria tudo que pudesse levantar sobre a tal Minerva, e também sobre Morgana.
Eu saí da universidade e de um telefone público liguei a cobrar pro celular da Morgana. Queria combinar uma visita a casa dela, para levantar possíveis pistas no quarto da desaparecida, coisa que qualquer detetive que se preze faria. Felizmente ela tinha crédito e me atendeu. Achei sua voz estranha, mas combinei a visita pras 5 horas, pra dar tempo de eu verificar quais os ônibus eu teria que pegar pra chegar até lá. Os passes seriam por conta da cliente.
Depois de pegar dois ônibus cheguei em meu destino, uma pequena casinha de fundo de quintal nos arredores do CEDETEG. Me atendeu uma velha meio surda e foi difícil explicar quem eu era pra poder passar para os fundos. Vencido esse obstáculo, bati na porta de Morgana. Ela me atendeu usando pijamas, achei estranho aquela hora mas não falei nada, tinha algo de nervoso nas suas palavras:
- Ah, é o senhor, digo, você, entre por favor. Eu estava dormindo, é que pra me sustentar no curso eu tenho um emprego a noite. Sabe como é né, a gente vem do interior, não tem família rica, então tem que se virar como pode. Mas que cabeça a minha né, não fiz nem um café pra te hospedar. Mas já coloco uma água pra esquentar. Você gosta de chá...
- Não se incomode Morgana, só quero dar uma olhadinha no quarto da vitima, quero dizer, no quarto da sua amiga pra ver se encontro algo importante.
Sem parar de falar um minuto ela me conduziu para o quarto menor da casa, que era de Minerva. No quarto havia apenas um colchão de casal no chão, alguns cabides com roupas penduradas em uma espécie de varal. Cartazes de festas antigas colados nas paredes eram a decoração, em um canto se viam sapatos, livros e xérox amontoados. Algumas caixas empilhadas completavam o mobiliário. O quarto destoava bastante do da amiga, completamente mobiliado, que pude ver na passagem. Olhei os livros, os xérox, nada interessante. Examinei as caixas, uma continha lingeries, outra meias. Uma caixa de sapatos que estava bem embaixo me interessou mais. Lá havia fotos com várias pessoas, sobretudo rapazes, alguns bilhetinhos e cartões de amor, e um caderno com telefones e anotações. Convenci Morgana a me deixar levar as fotos e as anotações para um futuro exame. Na saída eu consegui decifrar: seus cabelos eram castanhos.
Uma rápida olhada nas anotações foi o bastante para eu entender qual seria o próximo passo. Eu teria que trabalhar disfarçado, e já sabia de que e onde.


(Continua...)

8 comentários:

disse...

Ham...
Esta história ta fiicando cada vez melhor...
Acho que logo logo teremos alguma pista e muito interessante...

Paula de Assis Fernandes disse...

nossa... eu não vejo a hora de ler o próximo episódio da históóóória!
mto bom!

Unknown disse...

manué?
nenhuma licença poética explica o uso disso num texto.
Recomponha-se.

Michele Matos disse...

Intrigante...
Essa história de se virar como pode trabalhando durante a noite, não sei não.
E será que toda profissão exige um pouco de falta de ética?
Que venha a continuação...

Anônimo disse...

ADOROOOOOOO

fix me disse...

hahaha tá muito bom Chico!
merecia já uma abordagem em vídeo :P
hahah. abraço

Michele Matos disse...

E nós estamos aqui esperando a parte 4...

Scheyla disse...

Legal! É uma narrativa que suscita os olhos. Dá para ver as cenas!