quarta-feira, 29 de abril de 2009

Desabafo

Tudo bem. Eu posso estar fora de moda! Mas sou do tempo em que se combatiam superstições. Sou do tempo em que se podia distinguir o certo do errado, e mais, se podia optar por um deles. A gente acreditava no bem e no mal, e acreditava poder diferenciá-los. Depois veio a aclamada pós-modernidade, o relativismo, e a verdade deixou de existir. Eu sou de um tempo em que se achava possível optar por um caminho melhor. Em que se acreditava no poder da razão de defender as coisas humanas. Mas já vai longe, hoje tudo é certo, tudo é normal. È uma bela maneira de isenção, se tudo é relativo posso me eximir de qualquer participação, afinal, nunca somos nós a decidir, tudo é acaso, tudo é acidente...Centremo-nos pois em nossas mediocridades. Deixemos pois que tudo siga seu curso relativo...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Subversão

...e aquele passaria a ser conhecido como o dia da vingança!
Os temíveis proletários dos quais nos advertira Marx uniram-se, venceram e festejavam a destruição de tudo que havia de sagrado.
Deus Todo Poderoso, lá dos céus, pensou em intervir, para restabelecer a ordem das coisas, mas teve medo de por os pés na terra. A criatura, pela primeira vez, criara consciência e se sobrepunha ao criador. Deus resolveu deixar-lhes em paz e foi passear em outros prados (e isso é uma outra história).
Enquanto isso, sem que os proletários, embriagados de champagne e propriedade, percebessem, algo de mais estranho acontecia no mundo: as coisas, espantadas com o novo, perceberam que também tinham direito de reivindicar a subversão.
As raízes das árvores despontavam para o sol enquanto as formigas cantavam a sua sombra. As bestas do apocalipse, preocupadas em se fazer notar, corriam como cachorrinhos entre os transeuntes desinteressados, enquanto os semáforos piscavam em cores mil.
Epílogo: naquela noite, todos os rabos enforcaram seus gatos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sobre a arte!

A alma mais desprezível ainda se regozija ao contemplar o belo! Mas cadê o belo nessa maldita arte moderna? Tudo é arte, blá, blá, blá. Isso é uma invenção do pensamento burguês para minimizar a sua própria obtusidade! E tem o dito!

Epílogo

No momento em que a raça humana deixara de existir, a tecnologia havia chegado ao seu auge. Tudo era sem fio, tudo era infravermelho, tudo era blue tuth, tudo era wireless. Turbilhões de informações giravam em ondas invisíveis por sobre os cadáveres cada vez menos frescos.
As ondas de informações sobreviveram aos seus criadores nas ondas de rádio, nos discos magnéticos, na fibra ótica...Aqueles blogs e suas futilidades, e suas mediocridades...viveram para sempre!

O Incrível homem que parou de pensar

Procurava lembrar. Em que momento? Em que momento deixara de pensar? Ainda se sentia racional, mas não de uma racionalidade completa. Para ele, raciocinar era um ato criativo. Mas desde quando deixara de criar?
Havia algum tempo começara a perceber algo diferente na sua maneira de pensar. Diferente da forma como seus pensamentos fluíam antes, na juventude.
Havia fertilidade no passado! Criava teorias, refletia, argumentava, convencia.
Em algum momento da sua vida começou a repetir idéias. As informações giravam em circulo na sua cabeça, se recombinavam. Mas as idéias novas começaram a rarear, cada vez mais. Em pouco tempo se tornou um papagaio de si mesmo, vivendo a repetir velhas sentenças. Máximas, que em algum lugar distante da sua vida tinham sido originais, mas que agora eram mero reflexo.
Não desenvolvia mais suas velhas filosofias, e começou acreditar que suas meias respostas eram definitivas. Não buscou mais a essência das coisas, e cuidou ver a essência na mera aparência. Se fez douto na arte de plagiar a si mesmo. Parafraseava seu eu do passado tentando apresenta-lo com novas roupagens, como se fosse original. Mas a verdade é que a fonte secara. Tinha deixado de pensar!
Sua sorte foi viver nos tempo da epidemia. Dessa maneira ninguém percebeu. Só ele percebeu, e foi a ultima coisa que percebeu.