terça-feira, 7 de abril de 2009

O Incrível homem que parou de pensar

Procurava lembrar. Em que momento? Em que momento deixara de pensar? Ainda se sentia racional, mas não de uma racionalidade completa. Para ele, raciocinar era um ato criativo. Mas desde quando deixara de criar?
Havia algum tempo começara a perceber algo diferente na sua maneira de pensar. Diferente da forma como seus pensamentos fluíam antes, na juventude.
Havia fertilidade no passado! Criava teorias, refletia, argumentava, convencia.
Em algum momento da sua vida começou a repetir idéias. As informações giravam em circulo na sua cabeça, se recombinavam. Mas as idéias novas começaram a rarear, cada vez mais. Em pouco tempo se tornou um papagaio de si mesmo, vivendo a repetir velhas sentenças. Máximas, que em algum lugar distante da sua vida tinham sido originais, mas que agora eram mero reflexo.
Não desenvolvia mais suas velhas filosofias, e começou acreditar que suas meias respostas eram definitivas. Não buscou mais a essência das coisas, e cuidou ver a essência na mera aparência. Se fez douto na arte de plagiar a si mesmo. Parafraseava seu eu do passado tentando apresenta-lo com novas roupagens, como se fosse original. Mas a verdade é que a fonte secara. Tinha deixado de pensar!
Sua sorte foi viver nos tempo da epidemia. Dessa maneira ninguém percebeu. Só ele percebeu, e foi a ultima coisa que percebeu.

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